Balanço de 2023 e expectativas para 2024 – Como o setor reage às mudanças do país

Dados do IBGE e respostas da Pesquisa de Conjuntura da ABIMO sugerem fim da estagnação e melhorias a partir do primeiro bimestre

A indústria brasileira de transformação enfrentou um 2023 de estagnação, porém com boas perspectivas para 2024. Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de janeiro a outubro não houve crescimento de forma massiva, sendo que alguns setores como o de derivados de petróleo e biocombustíveis assinalaram alta de +5,3% na produção, enquanto outros, a exemplo da fabricação de componentes eletrônicos, assistiu os negócios decrescerem -38,2%.

Representando as fabricantes nacionais de dispositivos médicos, a ABIMO traçou uma análise para entender os resultados do ano que se encerrou e elaborar as principais estratégias de atuação para os próximos 12 meses. De acordo com avaliação de Haroldo Silva, diretor-executivo da Probo Consultoria, é preciso reconhecer os desafios, mas, também, as conquistas.

“No setor de fabricação de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos, o recuo foi de -7,7% nos 10 primeiros meses de 2023. A boa notícia é que, em outubro, a produção cresceu +5% no comparativo com o mesmo mês de 2022. Foi a primeira vez que isso aconteceu no ano”, comenta.

Outro ponto positivo é que muitos dos decréscimos notados em 2023 estão atrelados à razões sistêmicas que já estão sendo tratadas pelos tomadores de decisão. “É o caso da falta de isonomia tributária, que faz com que a produção nacional seja prejudicada com uma alta de impostos muito superior à aplicada aos itens importados, minando a competitividade da nossa indústria frente às concorrentes internacionais”, explica Paulo Henrique Fraccaro, CEO da ABIMO.

No primeiro semestre do ano passado, por exemplo, o déficit da balança comercial do setor já crescia 15,5%. Porém, esse ponto foi tratado junto ao poder legislativo e, ao que tudo indica, teremos soluções para tornar o mercado mais justo e competitivo. Isso porque em 15 de dezembro, o texto final da reforma tributária foi aprovado pelo Congresso Nacional, garantindo a isonomia tributária nas compras públicas e das Santas Casas e um desconto de 60% na alíquota padrão para o setor. O tema, inclusive, foi apontado como extremamente relevante por 55% das associadas à ABIMO que responderam à última Pesquisa de Conjuntura realizada pela entidade.

“Vemos, assim, que o cenário desfavorável de 2023 não deve se repetir em 2024. Muitas etapas ainda serão necessárias para que a reforma tributária traga efeitos reais, mas alguns avanços são inegáveis”, declara Silva enfatizando que algumas agências de classificação de risco inclusive estão melhorando as notas dadas ao Brasil, há redução nas taxas de juros e de desemprego, e a inflação está sob controle. “Talvez a expectativa de crescimento do PIB para 2024 registrada pelo Boletim Focus, do Banco Central, de apenas 1,5%, esteja subestimada”, completa.

Entre as associadas à ABIMO, o cenário de 2023 foi similar ao nacional, visto que não houve aumento na produção e foi observada queda nas vendas e estoques acima do desejado para 48% das empresas respondentes. Além disso, 38% das pesquisadas declararam queda nos níveis de emprego, 57% apontaram investimentos abaixo do projetado inicialmente, e 33% identificaram inadimplência acima da de 2022.

Há, no entanto, expectativa de melhoria concreta ainda no primeiro semestre e 70% das entrevistas acreditam em um desempenho ao menos 2% superior em 2024 frente ao de 2023. De todas as empresas respondentes, 48% creem em aumento nas vendas de janeiro e fevereiro, o que levará a crescimento da produção e potencial contratação de novos trabalhadores. Com desempenho melhor, 82% das respondentes disseram pretender investir na internacionalização a fim de alavancar as vendas fora do território nacional.

Outro ponto que foi destacado como preocupante por 45% do grupo de respondentes diz respeito à melhoria do acesso ao crédito, sendo que o acesso a recursos para inovação e descarbonização surge como algo extremamente relevante. Assim como a reforma tributária, que teve atuação forte da ABIMO durante toda a tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, esse tema também vem sendo trabalhado pela entidade que busca fortalecer parcerias estratégicas, garantindo que suas associadas possam encontrar os melhores caminhos para financiar suas inovações.

Publicado em 11/01/2024

Veja também