Ministério da Saúde deve antecipar possíveis situações emergenciais para garantir o abastecimento do sistema; estoque atual está sendo utilizado para atendimento às vítimas das chuvas no litoral norte de São Paulo
O feriado de Carnaval foi bastante traumático para o litoral de São Paulo. Após chover 600 milímetros em apenas oito horas, diversas cidades ficaram debaixo d’água. Com alagamentos e desmoronamentos diversos, já são mais de 40 mortos e muitos cidadãos precisaram de assistência média emergencial. Em uma crise como essa, os hospitais locais precisam de suporte dos municípios, estados e do Governo Federal para garantir a segurança e o atendimento a todos os necessitados.
O aumento repentino da demanda traz diferentes desafios para a administração hospitalar, que precisa remanejar suas equipes multidisciplinares e gerenciar seus estoques de suprimentos. Nesse momento, cabe ao Ministério da Saúde e às Secretarias locais prover os recursos necessários para a garantia da manutenção dos serviços assistenciais.
Em uma situação de calamidade pública desencadeada por desastres naturais, as unidades de saúde carecem de dispositivos intravenosos, para sutura, para imobilização e de medicamentos. De acordo com informações publicadas dia 20 de fevereiro pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde encaminhou, para o litoral paulista, 20 kits com 13 diferentes insumos e 25 tipos de medicação, material capaz de atender cerca de 4,5 mil pessoas ao longo de um mês. Além disso, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo também encaminhou, às cidades afetadas, kits para a garantia da assistência.
Essa, talvez, seja uma lição aprendida durante a pandemia de covid-19, quando vivenciamos a escassez de muitos suprimentos básicos. “Assim que o novo coronavírus surgiu, vimos que ninguém, em todo o mundo, estava preparado para enfrentar aquela situação. Faltaram equipamentos de proteção individual, medicamentos, respiradores e, quando chegou a vacina, faltaram seringas e agulhas. Aqui pudemos relembrar como é importante que o Ministério da Saúde atue sempre de forma preventiva, estocando suprimentos fundamentais para a assistência”, relembra Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO – Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos.
Na ocasião, a ABIMO alertou antecipadamente o Ministério da Saúde sobre a necessidade de planejar e encomendar suprimentos. “Passamos meses avisando o governo para que fizessem os pedidos à indústria com antecedência, visto que as empresas não estocam materiais para a entrega, elas se planejam e produzem de acordo com a demanda e a solicitação dos compradores. Além disso, quando uma compra é governamental, existem trâmites burocráticos que tomam tempo. Isso impossibilita os atendimentos emergenciais e faz com que o governo tenha, como única opção, doações por parte das indústrias e da sociedade”, explicou Fraccaro.
Quando os estoques do Sistema Único de Saúde (SUS) acabaram, houve um pedido de compra muito acima do que era normal e a indústria prontamente agiu – e investiu – para conseguir atender. “As fabricantes brasileiras contrataram mais trabalhadores, ampliaram sua capacidade produtiva, e entregaram o que era necessário para que nenhum brasileiro ficasse sem atendimento e sem vacina. Mas, novamente, reforçamos: é preciso planejar e estocar os suprimentos mais importantes para crises que possam surgir”, diz o executivo.
O caso do litoral paulista, por exemplo, é uma situação que pode ser prevista. É sabido que diversos pontos do país sofrem com infraestruturas que não toleram um grande volume de chuva e, no verão, é comum que tenhamos chuvas mais intensas e mais frequentes.
O que Fraccaro espera é que o governo tenha aprendido a lição, verifique seus estoques – que atualmente devem estar impactados por conta das tragédias do Carnaval – e façam as solicitações de compra para a indústria brasileira trabalhar em um planejamento exequível para a entrega dos suprimentos requisitados.
Publicado em 24/02/2023