Com poder de compra do Estado e forte política industrial, cadeia produtiva da saúde contribui com a economia do país

Franco Pallamolla, vice-presidente de Relações Institucionais da ABIMO, participou de seminário sobre o Complexo Econômico e Industrial da Saúde promovido pelo BNDES

Representando a ABIMO – Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos, o vice-presidente de Relações Institucionais da entidade, Franco Pallamolla, foi um dos palestrantes do seminário “Saúde e Soberania: o Complexo Econômico Industrial da Saúde como estratégia de desenvolvimento para o Brasil”, promovido dia 12 de setembro pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O executivo participou da mesa sobre a digitalização do SUS e a indústria de equipamentos e materiais para saúde.

Moderado por José Luís Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Comércio Exterior e Inovação do BNDES, o debate também contou com Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde; Giliate Cardoso Coelho Neto, da EBSERH; e Chao Lung Wen, da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde.

Na ocasião, Pallamolla apresentou a perspectiva da indústria diante de todos os processos de digitalização do setor. “A cadeia produtiva vê uma janela de oportunidade tanto na renovação do parque tecnológico quanto no avanço de novas tecnologias repletas de potencialidades que vão se descortinando à medida que a saúde digital vai, de fato, sendo implementada”, comentou.

Quando questionado sobre como as compras públicas podem contribuir para esse desenvolvimento, o vice-presidente da ABIMO enfatizou que a palavra mágica é “escala”. “Se centralizarmos as compras vamos conseguir escalabilidade. Se pulverizarmos essas aquisições, teremos dificuldade para permitir o surgimento de empresas no país, visto que vamos favorecer bases industriais internacionais já instaladas com capacidade produtiva ociosa”, explicou.

Franco relembrou, inclusive, uma fala recente da ministra da Saúde, Nísia Trindade, sobre alavancar a participação da cadeia produtiva nacional dentro do SUS. “A meta colocada pela ministra é de termos autossuficiência de cerca de 70% ao longo dos próximos anos. Precisaremos de mecanismos como o poder de compra público para acelerarmos nessa direção”, declarou.

Em sua apresentação, Ana Estela mostrou quais os próximos passos do Ministério da Saúde, explicando a estrutura atual da secretaria que comanda e que conta com três departamentos específicos para o tratamento de dados, saúde digital e inovação. Além disso, mostrou como está o processo de implementação da RNDS – Rede Nacional de Dados em Saúde. “Informação é a base do processo de transformação digital e o modelo de que estamos apostando é um modelo de arquitetura de interoperabilidade que estabelece padrões para a troca de informações”, disse.

Segundo a executiva, hoje a Rede já envolve 68 milhões de registros de exames, 739 laboratórios habilitados, 1,2 bilhão de registros de vacina, 15,7 milhões de registros de internações hospitalares, 23,1 milhões de registros de autorizações de procedimentos especiais e 3.697 UBS integradas para uso do Conecte SUS Profissional.

Para Wen, a reclamação sobre problemas de conectividade não pode mais ser utilizada como justificativa para a falta de desenvolvimento no país. “Nada nos impede que, em 2023, possamos crescer de forma estruturada. Hoje, telemedicina e telessaúde são estratégias de processos. Se queremos um único sistema para o SUS, porém com a descentralização necessária, só há um caminho: reinventar usando modernas tecnologias de conectividade”, pontuou.

Atualmente, sempre que há alguma discussão sobre compartilhamento de dados, há perguntas relacionadas à LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados. Na mesa redonda, Neto se pronunciou sobre o tema alertando que esse não deve ser um empecilho. “É sim uma questão fundamental que carece de uma estrutura regulatória. Porém, existem diversas técnicas para proteger esses dados, como a anonimização, a desautorização por parte dos pacientes e a utilização de dados sintéticos. Não existe inovação sem proteção de dados”, declarou.

Enfatizando que o BNDES tem total interesse em atuar em parceria para promover o Complexo Econômico e Industrial da Saúde, Gordon disse: “Temos um desafio enorme pela frente e espero que o BNDES possa ser um parceiro cada vez mais forte da agenda da saúde, levando conectividade para que as máquinas e os equipamentos desenvolvidos pela indústria nacional possam chegar onde precisam a fim de auxiliar na telemedicina e na telessaúde integrada”.

Priorização do Complexo Econômico e Industrial da Saúde

A priorização do Complexo Econômico e Industrial da Saúde foi bastante enfatizada na abertura do seminário, comandada por Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. “O setor é responsável por aproximadamente 9,6% do PIB, gera muito emprego qualificado e está associado à tecnologia e inovação, ou seja, é um segmento que promove muito valor agregado à economia do país”, disse.

O executivo reforçou a necessidade de envolvimento do Estado. “O SUS tem um poder de compra gigantesco que precisa estar associado aos esforços de industrialização e evolução científica, tecnológica e produtiva do país”, alertou. Segundo ele, esse movimento também é percebido em países de primeiro mundo como, por exemplo, os EUA que trabalham pela recentralização dos setores industriais mais dinâmicos e estratégicos por reconhecer que não ter capacidade produtiva interna é muito mais caro e arriscado.

“O Brasil tem todas as condições para se destacar no Complexo Econômico e Industrial da Saúde. Temos base instalada, não entramos, há 150 anos, em guerras com nossos vizinhos e somos um dos 15 países com relação com todas as nações europeias. Com isso conseguimos atrair investimentos. Precisamos apenas de competência e iniciativa”, complementou.

Por meio de uma aparição em vídeo, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, também declarou que o país precisa de autonomia, relembrando a crise durante a pandemia de covid-19. “O conceito de desenvolvimento parte da necessidade de soberania do país que se mostrou fragilizado durante a crise por ter de importar desde itens simples até tecnologia sofisticada”, disse.

Complementando a equipe responsável pela abertura do seminário, Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, declarou que precisamos de agilidade. “A oportunidade passa rápido e a fronteira de inovação em saúde está correndo. Ou aproveitamos esse momento histórico de convergência de instrumentos de política pública para superar as barreiras e fazer uma política pública ousada, inovadora, honesta e decente, ou seremos condenados a um país que extrai minério, petróleo e utiliza produtos de baixo valor agregado, e não aquelas tecnologias com maior capacidade de gerar empego e trabalho em uma economia decente que tem compromisso com a vida”, finalizou.

O seminário na íntegra está disponível no canal do YouTube do BNDES e pode ser acessado AQUI.

Publicado em 14/09/2023

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