Dispositivo tem baixo custo, foi tema de estudo científico, e poderá ser incorporado ao SUS
O setor de saúde, no Brasil, é altamente capacitado, tecnológico e antenado às principais demandas globais. A exemplo de como nossos pesquisadores estão alinhados aos melhores do mundo, podemos citar o desempenho dos profissionais em atuação no LAIS (Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde), parceiro da ABIMO – Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos.
Há bastante tempo, o LAIS vem trabalhando em projetos de enfrentamento à sífilis, infecção sexualmente transmissível que se tornou uma epidemia silenciosa em diversos países. Apesar de ser uma doença evitável e tratável, os casos estão aumentando. Nos Estados Unidos, por exemplo, de 2015 para cá o número de adultos infectados praticamente dobrou. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sífilis é a segunda principal causa de natimortos, podendo também resultar em prematuridade, baixo peso ao nascer, perda auditiva congênita e malformação óssea.
Recentemente, o laboratório se dedicou ao desenvolvimento de um teste rápido para diagnóstico da sífilis que revoluciona os métodos atualmente utilizados. E os resultados foram bastante positivos. Com baixo custo, o dispositivo poderá ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por atender 75% da população brasileira.
“Precisamos reconhecer a importância do LAIS para o desenvolvimento da saúde nacional. Referência em tecnologia e inovação – inclusive com estudos e evidências publicados em periódicos de renome – o laboratório presta um serviço de altíssima qualidade para a nossa população. Isso porque, como diferencial, não se limita à pesquisa científica. Realiza o estudo, mas dá sequência ao projeto até que ele possa, de fato, chegar ao mercado. Esse teste rápido para detecção da Sífilis é um excelente exemplo”, comenta Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO.
Ricardo Valentim, diretor-executivo do LAIS, reconhece a revolução promovida por esse projeto. “Esse teste traz uma contribuição significativa, pois qualifica o diagnóstico e entrega um resultado mais apurado. No SUS, irá atuar prioritariamente na atenção primária à saúde em integração com a vigilância epidemiológica”, explica.
Os projetos criados pelo laboratório enfatizam a capacidade de pesquisa e desenvolvimento do Brasil. “Também precisamos destacar que o LAIS é uma vitrine do alto nível de conhecimento e competência da nossa classe científica. Como representantes da indústria nacional de dispositivos médicos, seguimos parceiros do LAIS para aproximar as equipes do laboratório aos times de P&D das fabricantes brasileiras. Com isso, temos certeza de que conseguiremos revolucionar ainda mais o cenário de inovação em saúde no Brasil com muitos novos projetos capazes de auxiliar na entrega de uma assistência segura e de qualidade para todos”, finaliza Fraccaro.
Entenda o dispositivo do LAIS para diagnóstico da sífilis
Entre as estratégias com capacidade para reverter o complexo cenário da sífilis no mundo, está o aprimoramento do diagnóstico laboratorial envolvendo dispositivos de baixo custo. Foi exatamente neste caminho que o LAIS optou por atuar ao desenvolver uma ferramenta de triagem laboratorial para detecção de sífilis e de outras ISTs.
“O teste rápido para diagnóstico da sífilis desenvolvido pelo LAIS é um marco importante na qualificação do diagnóstico não só no Brasil, mas no mundo. Além de quantificar a testagem, traz uma inovação fundamental nos métodos utilizados”, explica Valentim enfatizando que as possibilidades diagnósticas hoje são insuficientes, o que gera problemas para o rastreamento e a eliminação da transmissão vertical da doença.
Atualmente, os métodos tradicionais para diagnóstico envolvem testes rápidos ou VDRL que têm, como base, a detecção de anticorpos produzidos durante a infecção. Porém, essas metodologias podem levar a resultados tanto falso-positivos quanto falso-negativos devido a doenças autoimunes ou falhas sorológicas.
O protótipo desenvolvido pelo LAIS é baseado em voltametria cíclica para detectar antígenos e anticorpos relacionados à sífilis em amostras clínicas. Quando comparado com o VDRL, apresenta a vantagem de não necessitar nem de infraestrutura laboratorial, nem de profissionais especializados para a realização. Além disso, é uma abordagem que apresenta resultado quantitativo, ou seja, que não está sujeito à interpretação humana.
“Trata-se de um teste treponêmico que também apresenta bacteremia, ou seja, detecta níveis de bactérias no paciente testado. Isso é muito importante, é um teste que está evoluindo para a inclusão também da detecção do HIV, outro problema de saúde pública ao nível global”, diz Valentim.
Este projeto se transformou no estudo científico “Development of a Cyclic Voltammetry-Based Method for the Detection of Antigens and Antibodies as a Novel Strategy for Syphilis Diagnosis” que, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, avaliou a tecnologia. Para analisar o dispositivo, os pesquisadores utilizaram amostras infectadas e não infectadas e, como resultados, obtiveram a indicação de que o sinal gerado pela ferramenta é suficiente para distinguir as amostras de forma muito rápida (até 15 minutos).
Publicado em 15/12/2022