Paulo Alvim, ministro do MCTI, reforça importância da inovação e da construção de uma política de longo prazo para fortalecimento da saúde

Alvim esteve no evento de apresentação da parceria entre EMBRAPII e BNDES promovido pela ABIMO na FIESP

A fim de apresentar novas oportunidades para a inovação na indústria de dispositivos médicos, a ABIMO realizou, em 27 de outubro, um encontro na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Com a presença do ministro do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Paulo Alvim, de lideranças da EMBRAPII e do BNDES, e de representantes das fabricantes brasileiras, o evento destacou a importância do fortalecimento do setor com base em uma política de estado de longo prazo e incentivo à cultura inovadora.

Dando início às apresentações, Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO e diretor titular adjunto do ComSaude/FIESP, relembrou os percalços desencadeados pela pandemia de covid-19 em um Brasil dependente de importações. “A pandemia mostrou a importância de um sistema de produção local. Nós todos lembramos as lutas que enfrentamos para comprar determinados produtos, brigando em portos e aeroportos”, disse em referência à escassez de materiais como luvas e máscaras, e também de equipamentos como ventiladores pulmonares, gerando uma disputa global por insumos.

Porém, considerando que de toda crise, surgem aprendizados, o executivo enfatizou que viver essa situação pode ter sido o motor de arranque para que construíssemos uma indústria local capaz de abastecer o país agora e no futuro. “Preocupados em termos uma política de estado – e não de governo – para fortalecer nosso complexo industrial, nos juntamos à ABIMED e à ABRAIDI na elaboração dessa Proposta de Política Industrial para o setor de Dispositivos Médicos”, comentou entregando o documento ao ministro Alvim.

Ele, que gere a pasta desde março deste ano, traçou um breve retrospecto de como o ministério vem encarando o setor de saúde nos últimos tempos. Ao mencionar a pandemia, relatou os desafios, mas também lembrou que a crise despertou uma solidariedade ímpar no empresariado nacional. “A união que conseguimos a partir de março de 2020 perdura até hoje, sendo fruto de uma postura cidadã dos empresários brasileiros. E isso jamais poderemos esquecer”, pontuou relembrando uma missão humanitária que, após ter o cenário nacional estabilizado, enviou ventiladores pulmonares totalmente confeccionados no Brasil para atender às necessidades do Líbano.

Sobre a relação do setor de dispositivos médicos com o ministério, Alvim disse reconhecer o setor como estratégico e concordou com a necessidade de uma política de longo prazo, inclusive para o maior incentivo à inovação tecnológica. “A saúde consome cerca de 30% do nosso investimento em ciência e tecnologia. Somente em 2020, o MCTI investiu R$ 1 bilhão nesse setor”, declarou, garantindo que passada a crise do novo coronavírus, a área segue sendo vista como prioritária.

Em sua apresentação, Franco Pallamolla, presidente da ABIMO, atrelou as dificuldades com a aquisição de produtos indispensáveis durante a pandemia à escolha anterior de sermos um país importador. “Nós tínhamos, no passado, muitas fabricantes que, devido às políticas fiscais, de compras e aos estímulos à importação, foram perdidas”, disse.

Pallamolla concordou que houve uma grande mudança nas perspectivas da indústria da saúde com a crise de covid-19, o que nos trouxe a um momento de reconversão industrial similar ao visto no pós-guerra. “Recebi ligações de diversos setores industriais brasileiros, de presidentes de indústrias gigantes, colocando seus parques fabris, suas engenharias e logísticas à disposição do nosso segmento”, contou.

Por fim, antes de passar a palavra para os líderes da EMBRAPII e do BDNES, que apresentariam a parceria que promete fomentar ainda mais a inovação no setor de dispositivos médicos, Pallamolla enfatizou que a indústria de saúde brasileira é resiliente e persistente. “Nos próximos anos teremos um setor pujante no processo de inovação e, sobretudo, mais independente do ponto de vista de tecnologias necessárias”, finalizou.

EMBRAPII e BNDES – Incentivo à inovação

Após as falas do ministro Alvim, de Fraccaro e de Pallamolla, o evento recebeu João Paulo Pieroni, chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES, e José Luis Gordon, presidente da EMBRAPII, para tratar da nova parceria que destina R$ 20 milhões para projetos de PD&I a serem desenvolvidos pelo segmento de dispositivos médicos.

“Fazemos um esforço enorme para a reindustrialização do país, mas não há um caminho sustentável de crescimento para a reindustrialização, sem inovação. Portanto, o que buscamos com essa parceria é alavancar os investimentos em inovação, trazendo maior agilidade e capilaridade”, disse Pieroni. O executivo explicou que, no momento, o contrato completo do BNDES prevê R$ 170 milhões em recursos não reembolsáveis para diferentes áreas, sendo que, inicialmente, foram destinados R$ 20 milhões para o setor de dispositivos médicos, mas, dependendo da geração de projetos, esse valor pode ser ampliado.

Para exemplificar como funciona a parceria entre BNDES e EMBRAPII, o executivo contou sobre um projeto inovador de terapia fotônica feito em conjunto com o Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP). “A inovação se tornou um produto registrado que está sendo avaliado para incorporação no SUS para diagnóstico e tratamento do câncer. Esperamos, muito, que chegue às unidades públicas de saúde. É um exemplo bacana de um projeto apoiado pelo BNDES e que partiu da ciência brasileira”, disse.

Para explicar a participação da EMBRAPII nessa parceira, Gordon afirmou que a instituição tem os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como prioridade, e que o objetivo número 3 diz respeito à saúde. “Queremos muito apoiar a área da saúde e hoje passamos a fomentar cada vez mais a área de dispositivos médicos, setor que já é o que mais congrega projetos conosco”, declarou.

Sobre o alinhamento com o BNDES, o executivo disse ser uma parceria estruturante e estratégica que já vem colhendo muitos frutos. Nas palavras do executivo, “se o setor gastar os R$ 20 milhões, conseguiremos mais R$ 20 milhões”. A EMBRAPII coloca à disposição da indústria brasileira 85 centros de pesquisa que atendem nacionalmente e reúnem especialistas extremamente capacitados.

Em sua apresentação, Igor Nazareth, diretor de planejamento e relações Institucionais, trouxe números bastante interessantes sobre a instituição, como, por exemplo, o fato de terem, hoje, mais de 1.790 projetos apoiados, 217 no setor da saúde. Além disso, compartilhou e informações acerca do modelo de financiamento adotado através da parceria com o BNDES, entre elas o aumento de 30% para 50% no montante de participação da EMBRAPII nos projetos de empresas com faturamento anual de até R$ 90 milhões.

Outra novidade está na ampliação dos níveis de maturidade tecnológica atendidos. Agora, a instituição apoia projetos desde o desenvolvimento da tecnologia até a parte mercadológica, de inserção do produto no mercado. Isso significa que podem ser realizados projetos de inovação com TLR  de 3 a 9.

Nazareth também explicou sobre a Lab2MKT, novo modelo de fomento à startups; sobre as redes constituídas pelas unidades EMBRAPII; e sobre o Basic Funding Alliance, nova modalidade que também atende o setor de dispositivos médicos para a criação de projetos mais disruptivos que envolvam pelo menos duas empresas, duas unidades EMBRAPII e uma startup.

Como forma de incentivar a adesão por parte das fabricantes brasileiras, o encontro também trouxe casos de sucesso de associadas à ABIMO que concluíram projetos em conjunto com a EMBRAPII. Na visão de Renata Gabaldi, coordenadora de desenvolvimento da Braile Biomédica, o fato do contato ser feito diretamente com o centro de excelência é um ponto positivo. “A gente trata direto com as unidades EMBRAPII, então não tem burocracia e há mais agilidade”, declarou.

Outro ponto, desta vez destacado por Carlos Renato Pitarello, diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da HTM, foi a possibilidade de gestão de portfólio. “Passamos de uma empresa que eventualmente buscava editais para criar projetos atendendo àquelas necessidades, para uma empresa com vários projetos em andamento e com maior identificação com a companhia”, disse.

Por fim, Juliano Alves Lindo, gerente executivo de governança corporativa da Ibramed, declarou: “não há nada de negativo para destacar sobre a parceria com a EMBRAPII. Só podemos parabenizar, agradecer e fomentar cada vez mais esse tipo de projeto”.

O encontro lotou o auditório da FIESP e foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da ABIMO. Os interessados em saber mais detalhes sobre o modelo de financiamento provido pela parceria entre a EMBRAPII e o BNDES podem assistir à gravação clicando AQUI.

Apoio: ComSaude/FIESP

Publicado em 28/10/2022

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