Com crescimento expressivo nas exportações para os Estados Unidos, setor pode ser duramente afetado por nova tarifa de 50% e precisará reavaliar rotas e estratégias
Na noite desta quarta-feira, 9 de julho, o Brasil foi surpreendido pela notícia de que o presidente norte-americano Donald Trump determinou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros que entrarem nos Estados Unidos. A decisão causa forte impacto, especialmente por ocorrer em um momento de relações comerciais em expansão entre os dois países, com crescimento constante nas exportações brasileiras e uma balança comercial favorável aos norte-americanos.
Em resposta, o Governo Federal anunciou que poderá acionar a Lei Brasileira de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril deste ano pela Câmara dos Deputados, mas ainda não regulamentada. A medida anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva prevê, entre outras ações, a imposição de restrições à importação de bens e serviços, suspensão de concessões comerciais e de investimentos, além de sanções relacionadas à propriedade intelectual.
Impacto direto na indústria de dispositivos médicos
O setor de dispositivos médicos está entre os mais sensíveis às novas tarifas. Os Estados Unidos figuram como um dos principais destinos das exportações brasileiras no segmento. Somente em 2024, o país importou US$ 276,88 milhões em dispositivos médicos fabricados no Brasil, uma alta de 27,22% em relação ao ano anterior.
No âmbito do Brazilian Health Devices (BHD), projeto setorial da ABIMO em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o desempenho foi ainda mais notável: crescimento de 36,62%, com exportações que totalizaram US$ 19,15 milhões no ano passado.
E o ritmo se mantém em 2025: no primeiro semestre, o setor como um todo já exportou 10% a mais do que no mesmo período de 2024.
Para Larissa Gomes, gerente de Projetos e Marketing da ABIMO, o impacto é considerável. “A maior parcela dos nossos produtos para a saúde exportados aos Estados Unidos era isenta de tarifas ou tinha uma alíquota inferior a 5%. Com esse aumento vertiginoso, entramos em um novo cenário de incertezas que exige atenção redobrada das empresas. Será necessário reavaliar rotas, estratégias e buscar alternativas para garantir competitividade internacional”, afirma.
Larissa destaca ainda que a possível aplicação da Lei de Reciprocidade Econômica também poderá afetar negativamente tanto as fabricantes brasileiras quanto as multinacionais instaladas em território brasileiro que dependem de insumos e matérias-primas importadas dos EUA. “Temos um grande número de fabricantes de dispositivos médicos que fazem esse movimento cotidianamente. Eventuais restrições podem gerar desequilíbrios operacionais sérios para essas empresas”, completa.
Publicado em 10/07/2025