ABIMO alerta para os riscos à competitividade da indústria nacional e defende diálogo como melhor caminho
Na tarde de quarta-feira, 30 de julho, o governo norte-americano divulgou o decreto assinado pelo presidente Donald Trump que estabelece uma tarifa extra de 40% sobre produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos. Com isso, o total de imposto aplicado chega a 50%.
O texto apresenta uma tabela com quase 700 itens isentos da nova tarifa. No entanto, infelizmente, os dispositivos médicos não estão contemplados na lista. O decreto entra em vigor em 6 de agosto e inclui como exceções produtos como suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos e peças, fertilizantes e itens do setor energético.
Segundo comunicado oficial da Casa Branca, “a ordem foi emitida para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
“Infelizmente, os produtos para a saúde não foram poupados pelo ‘tarifaço’ criado pelos EUA. Com isso, nossas exportações de dispositivos médicos para os norte-americanos ficam comprometidas”, afirma Paulo Henrique Fraccaro, CEO da ABIMO, lembrando que, somente em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 300 milhões em dispositivos médicos para os EUA.
Para Fraccaro, o cenário ainda é instável, especialmente por envolver motivações políticas. “O momento que vivemos é frágil politicamente para ambos os lados, e essas decisões podem ser revistas. Independentemente disso, nossa indústria tem dois caminhos: arcar com os custos das tarifas sem repassá-los ao consumidor final (o que é muito difícil) ou buscar outros mercados para absorver esse volume que deixará de entrar no território estadunidense, o que também traz desafios, principalmente regulatórios.”
Governo brasileiro evita retaliação
Apesar do cenário desfavorável, Fraccaro avalia como positiva a decisão do governo brasileiro de ainda não aplicar a Lei da Reciprocidade. Ele, que sempre defendeu o diálogo como estratégia principal, explica: “A não reciprocidade é uma boa notícia, uma vez que importamos, no ano passado, cerca de US$ 1,6 bilhão em dispositivos médicos dos EUA, e há a projeção de que esse volume chegue a US$ 1,8 bilhão neste ano. Sem a reciprocidade, não teremos o encarecimento desses produtos em nosso território.”
No dia 14 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto regulamentando a Lei da Reciprocidade Econômica e instituindo o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, responsável por acompanhar negociações e deliberar sobre sanções comerciais.
ABIMO atua para reduzir os impactos
Desde o primeiro anúncio sobre o possível “tarifaço”, no início de julho, a ABIMO vem atuando junto ao Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), para mitigar os impactos negativos da medida sobre a indústria brasileira de dispositivos médicos.
Neste momento, a Associação trabalha pela inclusão dos dispositivos médicos nacionais na lista de exceções à nova tarifa de 40%. “Essa é uma luta difícil, pois o volume que exportamos não é tão significativo quando se observa a balança comercial entre os dois países”, pontua Fraccaro.
O executivo também destaca que os produtos brasileiros disputam mercado com dispositivos fabricados por países como China, Índia e Turquia, fornecedores que podem suprir a demanda norte-americana. “Os EUA não terão muita dificuldade em encontrar outros fornecedores além do Brasil. Porém, são justamente esses países que o governo Trump demonstra pouco interesse em ampliar as negociações comerciais”, observa.
Fraccaro finaliza reforçando que o cenário exige cautela e acompanhamento constante: “O melhor caminho, hoje, é acompanhar as atualizações dia após dia, mantendo o diálogo aberto com o MDIC.”
Publicado em 31/07/2025