Dia Nacional do Controle da Infecção Hospitalar alerta sobre a importância de práticas de prevenção

A diretora da ABIMO, Regiane Marton e a coordenadora do Serviço de Odontologia do Hospital São Paulo, Dra. Denise Abranches falam sobre a necessidade de investimento em especialidades que atuem de forma multidisciplinar no combate a infecções como a odontologia hospitalar

 

O dia 15 de maio é lembrado como o Dia Nacional do Controle da Infecção Hospitalar, data incorporada ao Calendário da Saúde por meio da Lei nº 11.723 de 23 de junho de 2008, com o objetivo de conscientizar autoridades sanitárias, diretores de instituições e trabalhadores da saúde sobre a importância do controle das infecções no âmbito da saúde.

A ideia para esse marco ocorreu no ano de 1847, na Hungria, quando o médico-obstetra Ignaz Semmelweis defendeu e incorporou a prática da lavagem de mãos como atitude obrigatória para enfermeiros e médicos que entravam nas enfermarias. Essa dinâmica conseguiu reduzir a taxa de mortalidade das pacientes e aumentou a proteção dos profissionais.

Assim como na situação que marcou essa data, ainda hoje algumas áreas, muitas vezes negligenciadas, podem contribuir  com mudanças transformadoras para a conquista de tratamentos de qualidade. Se no passado, a não obrigatoriedade da higienização ocasionava problemas aos pacientes e aos profissionais, atualmente algumas especialidades também têm grande oportunidade de aperfeiçoar a qualidade do atendimento na saúde e de evitar infecções para os pacientes, como é o caso da odontologia hospitalar.

Algumas infecções na cavidade oral podem desencadear problemas sérios em todo o organismo. Para pessoas em grupos de risco – por exemplo: pacientes em tratamento contra o câncer, cardiopatas, diabéticos e internados nas unidades de terapia intensiva –, a atenção com a saúde bucal deve ser ainda maior.

A cirurgiã-dentista, farmacêutica e diretora da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), Regiane Marton, explica que o trabalho do cirurgião-dentista no hospital é compor a multidisciplinar: “O dentista tem a função de checar a saúde bucal do paciente, o que precisa ser feito e de como a doença poderá influenciar na saúde sistêmica”.

Saúde bucal

No ambiente hospitalar é comum os pacientes passarem por períodos de baixa imunidade e sofrerem com infecções oportunistas por fungos, vírus e bactérias na cavidade oral, o que pode gerar riscos sistêmicos ou outros agravamentos.

“Os pacientes internados podem ter acometimentos na saúde bucal causados por doenças sistêmicas, assim como doenças bucais, podem levar a um agravamento de doenças já estabelecidas. Isso é possível, por exemplo, em que  casos de periodontite (doenças na gengiva), ou uma cárie profunda, ou de um tratamento de canal a ser feito podem agravar doenças no sistema respiratório, doenças cardíacas (endocardite bacteriana), estomatognáticas, dentre outros”, cita Regiane Marton.

O trabalho da odontologia hospitalar visa a avaliação das alterações bucais, como parte dos procedimentos de equipes multidisciplinares nos atendimentos de alta complexidade. “São procedimentos de  urgência e emergência bucal dos pacientes internados. A odontologia hospitalar não abrange procedimentos eletivos como tratamentos estéticos ou que possam ser encaminhados ao consultório odontológico”, explica.

Segundo a cirurgiã-dentista e diretora da ABIMO, Regiane Marton, os tratamentos feitos e oferecidos na odontologia hospitalar estão ligados a diferentes especialidades, desde a Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, relacionada a traumas e fraturas até Patologia Oral e Maxilo Facial. A atuação do cirurgião-dentista está na avaliação, diagnóstico, prognóstico e tratamento de acometimentos orofacial que podem acometer a saúde sistêmica. “Outro exemplo são fraturas dentais ou lesões que podem ocorrer em consequência de procedimentos hospitalares,  por exemplo intubação e que necessitem de atuação do cirurgião-dentista”, afirma.

A coordenadora do Serviço de Odontologia Hospital São Paulo e professora-adjunta da disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Dra. Denise Abranches, acrescenta que também é preciso destacar a importância da inserção de protocolos de higiene oral, pois os cuidados com a higiene oral nas Unidades de Terapia Intensiva, agregados a outros protocolos multidisciplinares são capazes de reduzir o risco de desenvolvimento de PAVM (Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica), reduzindo riscos de infecção, permitindo o diagnóstico precoce de agravos ao quadro geral do paciente.

Trabalho em conjunto

A atuação de equipes multiprofissionais que incluem o cirurgião-dentista, trabalha na promoção da saúde baseada em evidências científicas, prestando assistência odontológica aos pacientes em regime de internação hospitalar, ambulatorial, urgência e emergência como explica Denise Abranches.

“Quando estamos inseridos numa equipe multidisciplinar, criamos rotina de atendimentos no âmbito hospitalar e é natural que os médicos conheçam o seu trabalho e a sua capacitação. Com isso, cria-se um elo forte de trabalho, fazendo com que passem a encaminhar os casos aos dentistas. Assim, é importante destacar a presença nas reuniões clínicas e do round multidisciplinar, pois é oportunidade para que o cirurgião-dentista demonstre o seu conhecimento e capacitação”.

A cirurgiã-dentista e diretora da ABIMO Regiane Marton reforça essa ideia. Ela explica que o dentista que atua nessa equipe multidisciplinar enxerga a saúde do paciente como uma saúde sistêmica, ou seja, a saúde do corpo integrada, de forma que todas as partes do organismo sejam tratadas e curadas. “Esse profissional atua na parte orofacial do paciente, fornecendo informações, fazendo diagnósticos, prognósticos e indicando tratamentos e como isso pode levar à saúde integrada, com outros profissionais olhando as demais áreas do paciente”.

Sobre a importância da realização desse trabalho, ambas citam o PCL (Projeto de Lei da Câmara) nº 34 de 2013 de autoria do deputado Neilton Mulim, que tornava obrigatória a prestação de assistência odontológica a pacientes em regime de internação hospitalar, aos portadores de doenças crônicas e, ainda, aos atendidos em regime domiciliar na modalidade home care.

Esse PCL foi vetado pelo Presidente da República Jair Bolsonaro no dia 05 de junho de 2019, quando o parecer técnico do Ministério da Saúde entendeu  que a vigência da lei promoveria, em médio e longo prazos, forte impacto financeiro nos cofres públicos. O assunto foi tema na edição de número 20 da ABIMO em revista em reportagem intitulada “Dentistas vetados em hospitais brasileiros: quem mais perde com isso?” (Páginas 42-45) Confira no link: http://revista.abimo.org.br/pub/abimo/?numero=20&edicao=10014#page/43

“Lutamos muito por isso desde 2008, quando o deputado Neilton Mulim propôs o Projeto de Lei pedindo a inserção do dentista nas UTIs. Durante o trâmite, o projeto passou por vários relatores até que se chegou ao consenso de que a lei seria para todos os pacientes, criando-se assim a odontologia hospitalar e não mais somente o dentista na UTI”, lembra Denise Abranches.

Ela reforça o quão importante teria sido essa conquista, mas que outros avanços têm sido feitos: “vários hospitais já possuem equipes de odontologia hospitalar, o que mostra a importância do nosso trabalho reduzindo focos de infecção, reduzindo custos hospitalares e, principalmente, melhorando a qualidade de vida do paciente”.

Regiane Marton também enfatiza a relevância da presença desses profissionais no ambiente hospitalar. “É de extrema importância dizer que as equipes de odontologia nos hospitais trabalham de forma intensa nas áreas buco-maxilo-facial, lembrando que isso é praticamente obrigatório, uma vez que é necessário um profissional de odontologia formado, especializado nessa área para tal atuação”.

 

 

 

 

 

 

Publicado em 15/05/2020

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