Com um portfólio de trabalho diversificado na área da saúde, a empresa Quinelato relata os processos vivenciados nesse momento de crise
Em entrevista, Anselmo Quinelato, CEO da Quinelato fabricante de instrumental cirúrgico, odontológico e veterinário, que também é diretor da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) e diretor-titular do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Regional Rio Claro, fala sobre a pandemia e o momento atual enfrentado pelas indústrias, marcado por mudanças e desafios extremos.
SINAEMO em movimento – Como as empresas de odontologia têm vivenciado esse momento de pandemia uma vez que a prática de suas atividades está limitada a atendimentos muito restritos?
Anselmo Quinelato – Todo o setor foi afetado. Há uma estimativa geral de que apenas 10% a 15% dos dentistas estão trabalhando, mas mesmo assim apenas atendendo emergências e com cuidados muito grandes com a biossegurança. Por isso, estamos num esforço conjunto de toda a cadeia, unindo as entidades representativas dos dentistas, distribuidores e fabricantes, a fim de discutir uma solução para o retorno à atividade. Um dos maiores desafios é definir um protocolo de mitigação de risco para o dentista e também para o paciente. Com isso poderemos encorajar os dentistas a trabalharem e os seus clientes a voltarem ao consultório. Hoje há muitas doenças como a endocardite bacteriana, que têm sua origem nas más condições bucais.
SINAEMO em movimento – Quais são as ações realizadas pela sua empresa para mitigar os efeitos da crise enfrentada no setor?
Anselmo Quinelato – No primeiro momento foram as medidas de distanciamento social e afastamento imediato dos funcionários do grupo de risco, a adoção do trabalho em home office e o uso de máscaras de tecido. Fizemos até uma campanha “Use máscara de tecido” logo no início da quarentena. Como a demanda caiu drasticamente, reduzimos a jornada de trabalho de toda a empresa, a maioria em 70%. Além disso, todas as despesas com eventos foram canceladas e as viagens estão proibidas até segunda ordem. Infelizmente não poderemos contar com financiamento para capital de giro, porque apesar do programas de financiamento do capital de giro terem sido criados, eles não estão chegando na ponta ou estão com juros e exigências de garantias que, na prática, inviabilizam a operação.
SINAEMO em movimento – A Quinelato também atua no setor médico hospitalar, que na contramão do segmento odontológico teve de dobrar a produção e combinar horas adicionais. Como tem sido essa experiência?
Anselmo Quinelato – Nossos produtos não são diretamente ligados ao combate à COVID-19. Como as cirurgias eletivas foram canceladas, tivemos queda de aproximadamente 60% da demanda também no setor médico.
SINAEMO em movimento – Considerando esse cenário de aumento de demanda, trabalho e toda a atividade que envolve a produção do setor médico hospitalar, como a Quinelato tem lidado com essas mudanças?
Anselmo Quinelato – Apesar de também ter havido redução, foi o setor médico que ainda sustentou algum faturamento, compensando a queda de 90% da odontologia. Além disso, nossa empresa tem um setor de serviços de manutenção de instrumental e uma área de veterinária, que se mantiveram neste momento. São duas áreas de negócio pequenas para nós, mas que neste momento estão ajudando bastante. Eu tenho usado a analogia do barco que está atravessando uma grande tempestade. Devemos chegar ao fim dela com o barco muito avariado, mas flutuando e com toda a tripulação salva. A partir daí temos que consertar o estrago e voltar a navegar.
Publicado em 07/05/2020